RSS

Brilha, brilha, estrelinha...

É.

Faz um tempão, né?

Engraçado que hoje eu senti necessidade de escrever, de desabafar aqui, depois de uma conversa com uma colega no trabalho. Uma jovem mãe.

Dia 15/09 meu último avô partiu.

A vida me deu a oportunidade de ter 3 avôs, dois maternos e um paterno.
Mas não me permitiu viver plenamente com nenhum deles, apesar de eu amá-los demais.

Minha família mudou para outro estado, então avôs, avós, primos, primas, tios e tias... todos ficaram pra trás. A minha infância foi vivida com meus pais, e com a minha irmã. Existe uma lacuna na minha vida, que corresponde ao espaço onde deveriam existir as lembranças dessa fase. Essa lacuna foi preenchida com breves flashes, que correspondiam às férias que eu passava em SP quando era criança. Quando eu brincava com minhas primas (do lado da mamãe, que têm idades próximas à minha) ou ficava vendo os adultos jogando baralho enquanto eu assistia ao Sílvio Santos na tevê com minha avó (do lado do papai, onde os primos são bem mais velhos que eu).

Foi ruim?

Não sei. Eu aprendi a viver assim, e os momentos que passava com a minha família eram felizes.

Por que estou falando isso?

Porque depois do acontecido, refleti sobre duas coisas que hoje considero fundamentais, e que até então não tinham tanto significado.

Quando minha mãe falou que meu avô tinha feito a passagem, fiquei nervosa. Depois veio o choro, o choro de quem tem culpa. Peraí, culpa? Culpa de quê?

De não ter estado com ele antes. De ter tido várias oportunidades de concretizar isso, e sempre ADIAR a bendita viagem. Perdi o casamento das minhas primas, aniversários das minhas avós, o nascimento da minha priminha. E, parando pra pensar, justificava isso tudo sempre com questões financeiras.

Só que na hora que a desgraça bate na porta, a gente sempre dá um jeito. Arrumei R$ 1500,00 pra comprar uma passagem em cima da hora pro ENTERRO do meu avô. Nessa hora a gente não pensa no dinheiro.

Meu, quando essa ficha caiu eu vi o quanto eu sou negligente com a minha família. O quanto as minhas prioridades estão erradas. E então alguém vai dizer: Gabi, isso é do ser humano, todo mundo é assim.
Mas a hora que a gente VIVENCIA esse sentimento, é muito ruim. Constatar que eu desperdicei as últimas oportunidades de estar com ele foi quase tão ruim quanto a dor que minhas primas sentiram com a perda dele. Elas foram criadas por ele, viveram suas vidas ao lado dele. Parando pra analisar o fato, o meu sentimento é tão pesado quanto a dor delas.

Minha outra reflexão veio dessa daí. Comecei a pesar o meu sentimento EGOÍSTA de não querer ser mãe.
Eu não quero que o meu sobrinho, que é a maior jóia que eu tenho hoje, tenha que crescer sozinho, sem ter com quem brincar, sem ter a casa da vovó completa, com tios, avôs, primos, aquela mesa grande, cheia de comida gostosa e cheia de gente. Eu passei tanto tempo longe da casa das minhas avós, sem visitá-las, que eu não lembrava mais o que era isso. O que era dar tanta risada, tirar fotos, comer aquele monte de coisas gostosas que as avós fazem questão de fazer pra gente. Eu ESQUECI como era estar na casa da minha avó com a minha família. E isso mexeu muito comigo.

Hoje, tenho 3 convicções:

1) Meus 3 avôs continuam pertinho de nós, nos amando, nos protegendo, num lugar muito, muito melhor do que aqui.

2) Não pretendo mais adiar visitas ou encontros por causa de grana, principalmente tendo uma prima que trabalha numa agência de turismo. XD

3) Não quero para o Arthur o espaço vazio que ficou na minha infância.

Não, não me sinto menos feliz por não ter vivido essas coisas. Mas é uma fase que eu nunca mais vou ter, uma fase gostosa que quase todo mundo vive, e eu não acho JUSTO privar o meu reizinho de vivê-la. O que eu puder fazer para que ele viva plenamente essa fase eu vou fazer. Porque hoje ele é a coisinha mais importante que eu tenho.

Eu sou grata pela oportunidade da reflexão, mas se pudesse ter feito diferente, se eu pudesse imaginar, eu teria feito diferente, como qualquer pessoa. Mas me despedi do meu avô com amor, com todo o amor que ele sempre me deu.

E a vida segue. Agora valorizando mais o que deve ser valorizado.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

1 comentários:

Anônimo disse...

Eu me peguei pensando justamente nisso quando escrevia também sobre a passagem do vô Benedito. Enquanto eu curti muito todos os trÊs, você curtiu pouco. Viveu mais longe da "famiglia" do que eu. E fiquei triste por isso. Talvez levada pela tristeza da perda física do nosso último avô vivo. Porque sei que mesmo longe de todos eles, fomos e somos muito felizes. E realmente, é uma lacuna que pode ser preenchida com as nossas famílias. Dar aos nosso filhos o que tivemos e não tivemos, e fazer uma família grande e feliz.
Te amo, irmãzinha!

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...